OK. Esse não é um blog sobre política e nem eu sou uma
pessoa necessariamente politizada – embora goste do assunto, entendo bem menos
do que deveria e gostaria. Mas preciso desabafar, preciso escrever.
Desde quando tudo começou eu apoiei e participei do
movimento. Reivindicação legítima por um transporte público de qualidade e a
preço justo para o cidadão – baixar os 0,20 centavos, cobrar das empresas mais
investimento, abrir as planilhas dos gastos e lucros das concessões. A ideia ganhou corpo e aderentes em
todo o país – fiquei encantada. Sou uma pessoa apaixonada por natureza e a
mobilização nacional me empolgou extremamente. Outras tantas reclamações e
reivindicações surgiram – achei legítimo e saudável, contanto que não perdesse
o foco.
Fui e sou contra os “esquerdistas politizados” que gritavam “ei,
reaça, saia dessa marcha” – afinal, naquela altura, o movimento não era da
esquerda ou de direita, nem de um partido ou de outro – era do Brasil “todo”
unido por um país melhor (lindo e utópico).
Mas também fui e sou contra a galera que pegou o bonde
andando, diversificou as reivindicações e agora queriam expulsar e hostilizar
os partidários que estavam lá desde o começo.
Oportunistas eles seriam se entrassem na jogada levantando bandeiras
quando ela ganhou a mídia – não foi o caso. O movimento não é partidário, mas
os caras são e estão lá legitimamente desde o princípio.
Além discussão da “esquerda oportunista” e da “direita
querendo reverter o discurso”, veio a polêmica do com ou sem “vandalismo”. Sou
contra a violência sempre, mas entendo que o quebra-quebra como reação à
truculência policial em uma multidão pacífica é consequência natural e “de
direito”.
Fui à segunda manifestação que aconteceu no RJ, no domingo
16/06, no Maracanã. Uma galera razoavelmente pequena – acho que menos de 1000
pessoas – pacífica, sendo atacada covardemente SEM REAGIR por uma polícia
despreparada e mal orientada. Absurdo!
No dia seguinte, segunda (17/06), manifestação linda. Rio
Branco lotada, multidão de no MÍNIMO MÍNIMO MÍNIMO 100 mil pessoas, cantando e
levantando a bandeira pacificamente. Mas, de repente, uma dispersão, uma galera
vai pro pau, não como reação à truculência policial, mas por iniciativa
própria. Novamente, uma polícia despreparada e mal orientada, acuada sem
reação. Absurdo dos dois lados!
Na terça, 18/06, RJ e SP anunciam a redução das passagens,
mas às custas do governo (não das empresas de transporte) e com retirada dos
investimentos em saúde. Absurdo total.
Então chegou o dia do “amanhã será maior” – quinta, 20/06 - Dia Histórico. Av. Presidente Vargas lotada – país inteiro com manifestações.
Lindo demais, principalmente nas imagens aéreas. No chão, no corpo-a-corpo,
imagens decepcionantes. De um lado, um clima de micareta que me deprimia e uma
falta de sincronia total – um grupo cantava e o outro vaiava, o outro cantava e
as pessoas não acompanhavam porque não acreditavam naquilo. Claramente uma
multidão de muitas vozes contraditórias. Fora Dilma ou Fora Paes? Eu,
particularmente, não quero ninguém fora – quero que quem está dentro cumpra seu
papel e nos represente. Mudar político não é efetivo se eles não perceberem que
quando chegarem ao poder vão precisar atender as exigências do povo que os
elegeram e a quem eles deveriam representar.
Por outro lado, a polícia barbarizando, indo pra cima da
multidão (até onde sei) pacífica – tacando bombas de gás lacrimogêneo em bares
e prédios na Lapa e na Glória, cercando alunos na UFRJ. Novamente, polícia
despreparada e muito muito muito mal orientada. Absurdo, absurdo, absurdo. Um
horror! E, agora sim, manifestantes vandalizando como reação à violência
covarde da polícia.
Fui dormir à 1h profundamente triste, acordei às 5h30 para
apresentar um trabalho na pós e acessei o Facebook para saber como tudo tinha
se resolvido. O primeiro post que vi foi de uma amiga belga dizendo que os
jornais de lá anunciavam uma morte em SP. Cheguei ao centro do Rio e vi pilhas
de lixos queimados e cacos de vidros no chão. Tristeza profunda.
E agora? Estou decepcionada, mas continuo a favor das
manifestação – mas elas precisam de foco – de serem uníssonas. Não é uma
questão de partido A ou B ou de direita ou esquerda – mas de um objetivo em
comum. Na minha opinião, ainda tem que ser o transporte público e a violência
policial.
No mais, a certeza que podemos e precisamos lutar por nossos
direitos, por um Brasil que queremos. Nada deve parecer impossível de mudar.
Mas a certeza maior ainda que meu mundo não é aqui. Defendo ideias e causas que
acredito na maneira que acredito porque estou aqui e quero viver do melhor
jeito possível. Mas não dá para viver para esse mundo. Tudo de bom que vemos
aqui é medíocre.
Muito bom o post. Faço das suas palavras as minhas.
ResponderExcluirO nosso mundo não é aqui, graças a Deus, mas isso não impede de tentarmos um Brasil melhor como um todo.
Gostei da leitura! Ótima review!
Texto maravilhoso! Análise consciente e equilibrada.
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